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Saúde - Quinta-feira, 14 de Julho de 2022

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Veneno contra o mosquito da dengue não é solução definitiva

A Sucen – Superintendência de Controle de Endemias – órgão estadual que norteia as unidades de Combate a Dengue nos municípios, classifica o uso de inseticida como a última opção.


Veneno contra o mosquito da dengue não é solução definitiva

Sempre surge, entre a população, o anseio de que a Unidade de Controle de Vetores faça uma nebulização maciça com inseticida (processo conhecido, em algumas localidades como fumacê) para erradicar os mosquitos Aedes aegypti, no entanto a aspersão geral de veneno nas ruas e avenidas, para o controle do mosquito da dengue, é uma medida radical, porém paliativa. Isso sem contar que, a Sucen – Superintendência de Controle de Endemias – órgão estadual que norteia as unidades de Combate a Dengue nos municípios, classifica o uso de inseticida como a última opção.

Em Guaíra, no final da estação chuvosa, a direção da Vigilância em Saúde solicitou o equipamento e autorização da Sucen regional para a realização da nebulização. Mas, em pouco tempo as chuvas cessaram e a taxa de transmissão da dengue caiu, fatores que motivaram a negativa ao pedido.

 MOTIVOS PARA EVITAR O INSETICIDA

Uns dos motivos, é que o mosquito cria resistência. Por exemplo, em uma população de mosquitos, em uma determinada localidade, pode haver um percentual pequeno, que tenha resistência ao inseticida. Este pequeno grupo sobreviverá ao veneno e procriará e, com pai e mãe resistentes, a nova geração de mosquitos terá um percentual de resistentes, muito maior que a anterior e, como o ciclo de vida e reprodução do inseto são curtos, geralmente menos de um mês, em pouco tempo aquela localidade terá uma infestação de mosquitos praticamente imune ao veneno.

Por outro lado, os inseticidas não matam apenas o Aedes aegypti, podem atingir a população de invertebrados úteis, como caso das diversas espécies de abelhas, polimerizadoras, que fazem flores virarem frutos, sem as quais a produção de alimentos será drasticamente afetada.

Ainda existem as questões comportamentais. Muita gente, ao invés de abrir portas e janelas, quando o fumacê passa, as fecha para evitar que o inseticida entre na casa. E, de acordo com diversos estudos realizados, nas décadas em que o Brasil vem lutando contra dengue, o principal habitat do mosquito fica dentro das casas. Ou seja, se um percentual de moradores deixa suas casas fechadas, a infestação do Aedes aegypti, naquela área, manterá vivos indivíduos adultos, o que reduz significativamente o efeito do fumacê.

E, tem mais, o inseticida só afeta, justamente o mosquito na fase alada, adulto, larvas e ovos continuam vivos e em pouco tempo podem repovoar todo ambiente.

COMO COMBATER ENTÃO? 

A forma mais eficiente de combater o mosquito Aedes aegypti, que além da dengue transmite zika, chikungunya e até febre amarela, é eliminando os criadouros. A orientação é: identificar e erradicar, ou tratar, todo e qualquer recipiente ou ambiente que possam acumular água parada nos quintais, terrenos vagos, logradouros públicos e dentro das residências.

O mosquito precisa de água para que seu ovo incube e ecloda. Um dos problemas é que este ovo pode sobreviver por mais de ano antes de ter água disponível, para incubar e gerar um novo mosquito. Assim, numa estratégia de sobrevivência a fêmea nunca bota o ovo direto na porção liquida e sim nas bordas do recipiente, próximo lâmina d’água. Esta tática impede que o Aedes aegypti deposite seus ovos em uma fonte que vai secar em poucos dias, no caso do final da estação chuvosa. Assim aqueles ovos ficam inertes, esperando a próxima estação quente e chuvosa. Por isso que os meses de chuva são os que têm o maior índice de infestação e, por consequência, de transmissão das doenças.

CONTRA-ATAQUE 

A principal tática das Unidades de Controle de Vetores é utilizar a estratégia do mosquito contra ele. Atuar nos meses secos. Eliminar os recipientes e nichos que possibilitam o ciclo de vida do inseto. 

Assim, quando a população segue as orientações da Saúde Pública e, fica alerta evitando todo tipo de recipiente ou tratando nichos, como ralos e vasos sanitários sem uso, a infestação do mosquito tende a cair e o número de casos de dengue, zika, chikungunya caem junto.

O tratamento para evitar que uma um ralo ou vaso sanitário se torne um criadouro é feito com produtos de uso doméstico, como sal ou água sanitária.

Os cidadãos podem insinuar, que seu quintal, sua casa e até o terreno vago mais próximo estão livres de recipientes inservíveis, mas mesmo assim ainda existem mosquitos. Um dos motivos é a capacidade adaptativa do Aedes aegypti, que pode, não somente, se reproduzir nos criadouros clássicos, como latinhas, pneus e garrafas. O criadouro pode ser um pequeno desnível no duto de escoamento de água da casa para a rua, um restinho de água na laje, ou até mesmo uma bromélia.

Nesse caso a solução vem pelo trabalho dos agentes de combate a dengue, que são pessoas treinadas e com muita experiência para identificar onde os mosquitos estão procriando. Por isso é importante deixar que este pessoal entre no imóvel e faça a devida vistoria.

MOSQUITO EM GERAL

O setor de Vigilância em Saúde tem notado reclamações de infestação de mosquitos em bairros próximos a cursos de água (córregos e lagos). Nesse caso, o setor ressalta que a procriação de espécies nativas de mosquitos nas margens de mananciais ocorre espontaneamente, e que o importante é o morador evitar os mosquitos que procriam fora do ambiente natural. O Aedes aegypti é uma espécie invasora, não é nativo do Brasil, veio do Egito, e certamente desembarcou em nosso país a centenas de anos, e navios vindos da região onde é endêmico. Acredita-se que o Aedes aegypti tenha chegado aqui nos navios que faziam o tráfico de pessoas escravizadas, por volta do fim do século XVI e início do século XVII. 

Nos agrupamentos humanos, principalmente cidades, o mosquito encontrou água, abrigo e o principal sangue humano. Embora o macho se alimente do néctar das plantas, a fêmea precisa dos nutrientes do nosso sangue para produzir ovos. Basicamente o mosquito da dengue, igual a outras pragas urbanas, como ratos, baratas, segue o homem. 

Por isso que para conseguir manter a população do mosquito em níveis baixos, e mitigar a possibilidade de transmissão das doenças, em que ele é o vetor, é necessário tomar os cuidados com a limpeza, deixar os agentes de combate a dengue trabalhar e quando apresentar sintomas: febre, dores musculares, dor ao movimentar os olhos, mal estar, falta de apetite e  dor de cabeça, cidadão deve procurar um médico rapidamente. Além do tratamento para evitar o agravamento do quadro, no caso de suspeita ou confirmação da dengue, zika ou chikungunya, outros procedimentos serão tomados pela Vigilância Epidemiológica, entre estas medidas, está a pulverização do inseticida no entorno da casa do paciente, visitas domiciliares para detectar criadouros e adoção de estratégias mais agressivas na eliminação dos focos. Com todo este cenário o combate a dengue se dá por um conjunto de ações que envolvem diversos setores do Poder Público, que sem a participação dos cidadãos, nunca será eficaz. 

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